GUILHERME TÂMEGA
"Foi divertido ter crescido no Rio de Janeiro. Lembro-me de faltar muitas vezes a aula quando tinha bons swells. Eu tinha um amigo que tinha um carro na época e ele me pegava antes da escola para ir surfar as vezes. Minha família tinha o suficiente para sobreviver, meu pai trabalhava no Banco do Brasil e minha mãe era uma agente de viagens. Eu cresci com três irmãos mais velhos e nós sempre tivemos toda uma educação e comida suficiente.Tudo começou quando eu tinha uns nove anos de idade, atacando a praia de Copacabana junto com meu irmão Fred, bodysurfer. Um ano depois, todos nós tínhamos uma prancha de surf cada e ai uma nova aventura começou. Depois de alguns meses eu estava surfando muito bem, sempre à procura de ondas grandes para surfar.Então, de repente, eu parei de surfar para andar de BMX. Eu não sei porquê ... talvez porque era chato. Eu me joguei no BMX embora ter sentido muita falta do mar. Minha vida de bodyboarder começou um dia em Copacabana, quando um dos meus amigos quebrou sua Morey Boogie ao meio. Eu levei metade para mim e começou a voar sobre as ondas com essa coisa. Eu adorei. Mais tarde, eu chorei para meu pai para me comprar um. Eu comprei o meu primeiro bodyboard em abril de 1985, uma Morey Boogie 139. Oito meses depois, fiquei em segundo lugar em um evento nacional amador em Itacoatiara. E tudo seguiu depois daí.Houve momentos que eu senti o cansaço de estar no tour por tanto tempo. Eu vi tudo, eu ganhei tudo isso , eu perdi tudo isso. Mas eu não vivo no passado, eu vivo no presente. Houve momentos em que eu me senti como se mandasse todo mundo ir se foder . Eu nunca duvidei de mim mesmo. Eu sei o que tenho que fazer para chegar ao topo de novo e eu estou indo a 100% em 2011. Tem sido um argumento constante para mim mesmo para ficar no tour, mas eu quero conquistar mais um título mundial. Se não fosse pela minha esposa e o apoio da Wave Rebel que estão comigo desde 1993, eu teria deixado este sonho há cinco anos.Sair em 2007 foi realmente uma desculpa para ter algum tempo e também para tentar abrir olhos no Brasil para bodyboarding. Não foi nada a ver com a Wave Rebel. Contei-lhes os meus planos e eles foram legais sobre o assunto. Eu acho que um atleta que representa seu país no topo deveria ser melhor cuidado. Há atletas no Brasil que não chegam nem perto de minhas realizações e eles conseguem todo o amor que eles precisam ... então se eu não tentar abrir as portas no Brasil, quem fará? Tentei acordar os políticos e grandes corporações, mas eu não tive as conexões certas para fazer com que as coisas acontecessem e então não funcionou como eu havia planejado. Mas enfim... Me tornei seis vezes campeão do mundo sem eles, então nada mudou realmente.Jay Reale era um bodyboarder profissional da velha escola que também fez alguns anunciandos para a ESPN e do GOB tour. Ele sempre negou o meu título mundial de Pipeline em 1994. Ele apresentou a premiação de 1997. Cheguei até ele e disse que não tinha problema em apagar o meu primeiro título, mas ele também teria que negar os oito, nove, dez o que seja de títulos que Mike ganhou em Pipeline. Ele consertou seu "erro" logo em seguida. Eu não quero parecer arrogante, mas eu era o cara a ser batido na GOB. Você pode perguntar a Ben Holland ou Eppo ou Mike ou qualquer um que foi dessa geração. Eu dominei o mundo por vários anos e foi uma das melhores sensações que já tive.
Toda vez que eu surfo com Mike nossa rivalidade esquenta, mesmo quando estamos no free surf. Mas é uma forma saudável de rivalidade. Fora da água somos amigos. Nunca fomos melhores amigos, mas o respeito é mútuo e é como deve ser. Uma vez, no Havaí, acho que foi em 1998 ou algo assim, Mike me convidou para passar a noite em sua épica casa no vale. Enquanto fui dormir, cara ... Tive um dos meus piores pesadelos. Eu vi uma aranha antes de ir para a cama e isso foi suficiente para me manter acordado até de manhã. A aranha era treinada por Mike para me picar no meu sono.Shark Island 2004 ... Eu não me lembro muito bem. Eu estava muito bêbado. Na Austrália, é impossível chegar até a apresentação sóbrio. Impossível! Mas, se há controvérsia sobre o resultado nunca é culpa dos competidores. Eu só fui até lá e fiz o melhor que podia, e as coisas foram fluindo no meu caminho. E a melhor coisa daquela vitória foi que não havia nenhum juiz brasileiro. Isso fez da vitória ainda mais especial.Eu não me pareço com um bodyboarder australiano na água e eu nunca vou. No início de minha carreira tudo o que eu queria fazer era mostrar aos críticos que o estilo bonito não vence campeonatos, é tudo uma questão de atitude. Se os críticos lhe dissessem para pular de um arranha-céu que você faria isso? Eu não dou a mínima para as críticas. Na verdade ... Eu gosto de críticas sobre o meu estilo ou qualquer coisa sobre mim, porque me fez o homem que eu sou hoje.
Eu acho que ajudei a mudar o esporte em alguns aspectos . Que as ondas grandes não são apenas para os havaianos. Que aereos é suposto para ser invergados. Que leashes são melhores no bíceps. Que bater os grandes lips é mais divertido do que bater os pequenos. Que eu desbanquei o rei. Que eu era o homem a ser batido. E eu realmente espero ver um brasileiro alcançar feitos semelhante mas, infelizmente, ninguém chegou perto ainda. "
Entrevista de Guilherme Tâmega por Mike Mckiernan.
Tradução Rafael Carneiro.
Entrevista Original: http://www.leboogie.com/templates/leb/page/page_html_standard.php?secID=147&BlogID=187 publicado em 29 Maio de 2011
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